Este texto foi escrito com base no depoimento e conhecimentos de Txanã Bake – curandeiro, descendente do povo indígena Huni Kuin, condutor de cerimônias xamânicas com as medicinas do rapé e da ayahuasca em Manaus – AM e aprendiz de Bu’ú Kennedy. A partilha final  é de Tchey Rocha, também aluno de Bu’ú e condutor de cerimônias.

 

Antigamente, os povos nativos realizavam seus rituais com o propósito de harmonizar e vibrar pelo equilíbrio da Terra, do tempo, das tempestades, das secas e para cuidar e zelar pelo planeta. Alguns destes povos adentravam o mundo espiritual através da ayahuasca e de outras plantas medicinais para dialogar com espíritos e ajudar a direcionar o clima e manter o equilíbrio da natureza. Vale dizer que o xamanismo compreende todos os elementos da natureza como consciências vivas e, dentro dos conhecimentos do povo Tukano, chamamos de “mahsã” ou “gente”: gente ar, gente nuvem, gente árvore, gente pedra, por exemplo.

Se tratando do clima do planeta Terra, que sofre cada vez mais modificações por conta das mudanças climáticas globais, se torna ainda mais importante refletir sobre as práticas ancestrais dos povos nativos. Era através de um diálogo respeitoso com os espíritos das nuvens, das chuvas, da terra, que o equilíbrio era possível e que os povos nativos conseguiam trazer ou afastar tempestades e secas. Com o início da colonização, muitos destes conhecimentos antigos começaram a se perder e, hoje, são pouquíssimos os povos que ainda detém as práticas necessárias para vibrar, dialogar, direcionar e atuar conjuntamente com o plano espiritual pelo equilíbrio da Terra. Infelizmente, a população do planeta aumentou tanto que os esforços destes poucos curandeiros, xamãs, rezadores e rezadeiras não estão sendo mais suficientes.

O progresso tecnológico humano tem se desenvolvido muito para a criação de novas formas de tecnologias, no entanto, muitas ações tem sido prejudiciais ao meio ambiente. Esse desenvolvimento desencadeou um desequilíbrio no campo energético da Terra. Agora, somam-se a isso as vibrações provenientes de satélites, celulares, frequências de rádio, internet, entre outras, intensificando ainda mais esse desequilíbrio ambiental.

Este é um assunto muito amplo e profundo, pois tudo está interligado: a ganância, o consumo excessivo dos recursos naturais, a falta de consciência, ações de causa e efeito, a diminuição das populações originárias, seus saberes,  e, em conjunto, os curandeiros e curandeiras que estejam verdadeiramente alinhados para não colocar seus interesses pessoais à frente das necessidades da humanidade e do planeta.

 

Se formos parar para analisar também, o xamã ou a xamã, os mestres e mestras de cerimônia, curandeiros/as, também tinham como papel aconselhar seu povo, oferecer educação básica de como coabitar  com a natureza, ou seja, estas pessoas sempre auxiliaram no equilíbrio do planeta através de seus rezos e rituais e, também, como professores e professoras, aconselhando, levando uma palavra de esperança e consciência para que os demais pudessem mudar seu pensamento, sua forma de ver o mundo, que percebessem que não estão sozinhos, que o planeta é gigante e que uma pequena ação individual pode ter um impacto muito grande no todo. 

É importante lembrar que os curandeiros carregam sabedoria, mas não o poder de mudar as pessoas. O objetivo é propagar informações para mudar a consciência das pessoas, a forma como se comunicam, como uma pessoa trata a outra pessoa, como trata a terra, os alimentos, o todo.

De acordo com as palavras de Txanã Bake: “Seria importante que houvessem mais pessoas que se dedicassem, de fato, a estudar sobre isso, mas se dedicar verdadeiramente e não só por mídia, por ego, mas por uma questão de consciência. É necessário todo um estudo e respeito à questão hierárquica para poder atuar realmente, hoje em dia muitos se intitulam xamãs, existem muitas escolas de xamanismo, mas pouco se fala sobre a relação do ser humano com a terra, sobre reeducar a  mente humana. Vibrar não é uma questão de falar ‘Deus nos ajude’, é necessário realmente estar alinhado, sem fanatizar, de uma forma consciente e verdadeira!”

Para concluirmos esta partilha, trazemos abaixo um depoimento de Tchey Rocha, também aluno de Bu’ú e condutor de cerimônias com ayahuasca:

“Sou Tchey Rocha, frequento cerimônias com o xamã curandeiro Onça do povo Tukano Bu’ú Kennedy há mais de 1 ano e neste tempo estive em 20 cerimônias, quase todas no Estado do Amazonas, em Manaus, que é onde moro e também na região do Alto Rio Negro (noroeste do Amazonas), em uma viagem de visita eco-cultural às comunidades Tukano e Tuyuka. Neste tempo pude presenciar e testemunhar muitas movimentações espirituais e energéticas feitas pelo mestre Bu’ú com sua sabedoria milenar, que vem de geração em geração. Vi com meus próprios olhos muitas pessoas sendo tratadas e curadas de enfermidades físicas e espirituais, presenciei também o Bu’ú se comunicando e desviando as nuvens em época de chuvas no Amazonas para não chover em algumas cerimônias.

Ano passado, em setembro, o Estado do Amazonas estava passando pela maior seca registrada nesta região do Brasil e foi quando Bu’ú chegou em Manaus e conduziu uma cerimônia específica para dialogar e auxiliar neste ponto, para que chovesse no nosso Estado e aqui na capital Manaus que já estava encoberta de fumaça das queimadas derivadas da seca. A cerimônia durou 4 horas, nos juntamos sob a liderança e condução do Bu’ú e vibramos juntos. Dada encerrada a cerimônia desta noite retornei para minha casa e, meia hora depois, começou um vento forte, até me surpreendi com o barulho do vento, quando fui ver começou a chover forte depois de mais 40 ou 50 dias sem chuvas, foi incrível testemunhar este acontecimento. Tudo isso através da sabedoria ancestral desta comunicação, com os seres da natureza, que vem sendo transmitida há séculos pela linhagem do mestre Bu’ú. Ele carrega consigo a consciência da vida que há além do que os olhos enxergam e compreende todo movimento da natureza, direciona os comandos e sistematiza benzimentos para cura.

Neste tempo acompanhando o Bu’ú nestas cerimônias e vivências muita coisa mudou para melhor na minha vida, minha consciência e hábitos alimentares melhoraram muito trazendo muitos benefícios a minha vida e minha vibração, minha sensibilidade ao mundo sutil das energias e universo espiritual vem expandindo me trazendo maior consciência da interligação de tudo no todo, recebi limpas e curas, compreendi ainda melhor minha sobre minha responsabilidade comigo mesmo e com os demais, quais os impactos das minhas ações, minhas relações em geral melhoraram, entrei em novo estágio no meu trabalho de autoconhecimento, com maior serenidade e paz para seguir este caminho eterno de aprendizado a ponto de também poder iniciar trabalhos com curandeirismo para também de alguma forma ajudar à saúde do planeta Terra, quando uma pessoa é curada de alguma enfermidade física, emocional ou espiritual, automaticamente a vibração desta pessoa melhora, esta vibração contagia, seus lares, suas relações, a cidade, o planeta e assim segue se reverberando para o infinito.

Vivendo tudo isso sou testemunha do grande serviço que o mestre Bu’ú realiza pela humanidade, pela natureza e quantas dimensões ele trabalha e movimenta, tudo alinhado com a espiritualidade de luz, com respeito, ética, nos trazendo e fortalecendo a consciência da importância do respeito e da disciplina. São muitos os ensinamentos que ele compartilha conosco a cada cerimônia e no próprio convívio, quando há a oportunidade de acompanhá-lo no dia a dia, como foi meu caso nos dias que passamos juntos em São Gabriel da Cachoeira, Pari Cachoeira e comunidades indígenas que visitamos. Presenciei ele ajudando muita gente, curando diversas pessoas gratuitamente e muitas vezes até realizando doações, trabalhando dia a dia para o bem estar e fortalecimento de sua cultura, tudo isso com seus próprios recursos, fruto do seu empenho e trabalho nas cidades onde viaja conduzindo cerimônias e realizando atendimentos.

Aprecio e agradeço ao Bu’ú pelo que faz e o exemplo de ser humano que é, dentro de uma missão a um bem maior, alinhado com a ética e espiritualidade de luz. Faz diferença na minha vida, muito Añu!”

 

Nosso grande añu (gratidão) ao Txanã Bake e Tchey Rocha pelo auxílio e depoimentos para que este artigo pudesse ser escrito e transmitir estas mensagens.

 

Até breve!